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Stadia: apareceu o bicho papão do ano

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A gente está mal acostumado. Vivemos em uma época de inovação tão acelerada, que ficamos esperando algo grande aparecer todo dia.

Teve um tempo que isso era mais fácil. Steve Jobs aparecia duas vezes por ano em seus keynotes, e nos apontava objetos de desejo que nós nem sabíamos que tínhamos.

Hoje em dia é mais difícil. A Apple faz uma apresentação milionária para mostrar um celular que custa os olhos da cara, e que não tem um “hatch”. A Samsung mostra outro que tem cinco câmeras, resolução suficiente para fotografar um ácaro na sua cara. Ou um telefone meio desajeitado, que faz tudo que os outros fazem, e é DOBRÁVEL.

A reação do público? “Meh.” Legal, bacana, mas o meu ainda tá bom. Tá muito caro. Tem um chinês mais barato que faz igual.

Daí, essa semana, o Google resolve anunciar, numa conferência de Games (GDC 2019), o lançamento de sua plataforma de games. E veja o plot twist. Eu disse “plataforma de games” e não “console”.

Há algum tempo que games deixaram de ser notícia para crianças. O mercado de games movimenta hoje mais dinheiro que o de cinema. Emprega uma quantidade de pessoas absurda. Turbina tecnologias que vão parar nos computadores e TVs de pessoas que nunca compraram um Playstation na vida.

Mesmo num cenário tão especializado, o anúncio da Google me causou arrepios.

Jogando sem console


O nome do produto é Stadia, e é um ambiente para jogos totalmente localizado na nuvem. O que isso quer dizer? Quer dizer que o jogo roda como um filme da Netflix. Você não precisa de um console. Na demo que mostraram na conferência, a pessoa clica em um botão, e em no máximo 5 minutos, está jogando, do ponto onde parou da última vez. É mais profundo do que você imagina: o usuário pode alternar o equipamento usado, indo de um computador para outro, para uma tablet, para um notebook, sem perder o ponto onde estava.

Dá pra ficar mais inacreditável ainda? Dá: de acordo com a Google, Stadia rodará jogos a 60 frames por segundo, numa resolução 4k, em equipamentos sem placa de aceleração gráfica. O processamento todo acontece na nuvem.

Ou seja, a Google está te oferecendo um produto para que você gaste menos, e não mais. Chega a dar medo.

Se você está dando de ombros porque não é gamer, pense de novo.

Imagine as utilizações possíveis em outras áreas num sistema como esse. Todo um mercado imobiliário se abrirá para empresas comprarem espaços virtuais que existirão nos ambientes dos games. O mercado de compras, a monetização que é feita dentro de games, que hoje já movimenta uma baba vendendo itens para os jogadores (somente o Fortnite, que é de graça par jogar, vendeu quase 2 bilhões e meio de dólares no ano passado), vai bombar quando receber jogadores de todos os lados, operando todo tipo de aparelhos.

O mercado de exibição de games, que já movimenta espaços como o Twitch, pode se transformar em algo parecido com o de esportes de verdade, com partidas de jogos sendo transmitidas ao vivo pelo Youtube, com uma diferença: o espectador pode pedir a qualquer momento para participar.

Jogo de cachorro grande

Se a promessa do Stadia se concretizar, ambientes de redes sociais podem finalmente cumprir a vocação de se tornarem localidades virtuais de verdade. Imaginando uma bastante provável convergência de tecnologias que leve os aparelhos de realidade virtual para junto dessas plataformas, o cenário é realmente ilimitado. Reuniões de negócios poderão ser feitas com pessoas ao redor do globo conectados em um ambiente como esse. Experiências cinematográficas inimagináveis até agora podem surgir como um braço novo do entretenimento. Enfim, é um mercado de potencial enorme, e que acaba de colocar a ponta do iceberg para fora d’água.

A Google não é a única a trabalhar nessa direção. A Microsoft tem um projeto semelhante em andamento, o Projeto xCloud, e aparentemente a Amazon também dá seus pulos nessa direção. A seu favor, a Microsoft tem o expertise no trato com games. A Google porém, chutou a bola primeiro. Em marketing, a gente sabe o valor de ser o primeiro em qualquer coisa.

Sim, existe um lado assustador nisso. A imersão pode ser tamanha que pode acabar de sugar nossos jovens de vez para dentro do mundo virtual. A velocidade que as coisas andam por vezes me parece superior a possibilidade que temos de entender tudo. O que isso pode gerar, ainda não sabemos.

Mas para quem se interessa por negócios, é uma notícia para deixar todos os radares em modo de atenção.

A Apple deve estar arrancando os cabelos em uma hora dessas, quando se prepara para apresentar uma de suas novas grande inovações: um canal de TV por streaming, que a Netflix e outra meia dúzia de players já domina.

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