Em 2007, eu achava que estava com a vida completamente definida.
Tinha um bom emprego, estável há um ano, em uma consultoria internacional, que me dava acesso a muita informação, respeito, um local de trabalho pra lá de ideal, e um trabalho bacana e dentro das minhas possibilidades e limites.
Beirando os quarenta anos, com uma família estruturada, eu encarava aquilo como o último e mais alto degrau de uma carreira que eu julgava vencedora. O Brasil estava muito bem, obrigado. Iríamos crescer com certeza, e dali pra frente, era só surfar nas oportunidades que com certeza apareceriam dentro da empresa, e aguardar por uma gloriosa e respeitada aposentadoria em algumas décadas.
Minha confiança era tanta que me transferi junto com família, gato, papagaio e cachorro para São Roque, uma cidade do interior que tornava o deslocamento para a empresa mais fácil. São Roque não era exatamente o mercado mais promissor do mundo para designers, mas e daí? Eu estava garantido.
Faltou combinar com os Russos. Ou melhor, com os bancos americanos. O quebra-quebra de 2008 caiu como uma praga do Egito sobre todas as empresas, e nos inevitáveis layoffs, eu fui um dos que rodei. Era 2009.
E então, estava ali, instalado num mercado nada promissor, longe das agências, empresas e estúdios que poderiam me dar uma nova colocação.
Em toda minha carreira, eu havia passado por duas vezes pela experiência de ser dispensado. Não foi bom em nenhuma. E apesar das chances atuarem totalmente contra mim, eu decidi, tal qual uma Scarlett O’Hara no alto do monte, comendo a última cenoura que restou na fazenda, que eu não ia passar por aquilo de novo.
E resolvi criar a Propósitto.
Para falar a verdade, foi justamente a carência do mercado da pequena cidade da atuação de branding bem pensado que me motivou a dar este passo. Eu via tantos negócios promissores perdendo terreno em meio a um mercado que, no ritmo da internet, mudava com alta velocidade, e não sabiam por onde nem começar a mudança, e pensei que ali seria um nicho interessante.
Como era de se esperar, o início foi porrada atrás de porrada, e nos primeiros anos, o que realmente manteve a Propósitto viva foram os contatos vindos da capital, com demandas vindas de empresas e pessoas que confiavam antes em minha atuação como freelancer.
Mas aos poucos, e às custas de muito explicar, de muito trabalho de networking, uma após a outra, empresas começaram a confiar em nossos serviços. Um pequeno comércio, uma clínica veterinária, uma indústria, e de repente, a empresa já começava a aplicar a vocação que desde o início eu sabia que ela tinha.
A de criar, transformar e gerir marcas para que elas possam competir em um mercado com características únicas. O mercado das pequenas e médias empresas.
De comunicar o valor que essas empresas já geravam, mas muitas vezes não conseguiam apresentar.
De devolver ao empresário o orgulho de ver sua empresa bem posicionada, bem avaliada e percebida pelo seu cliente, pelo seu entorno.
10 anos se passaram, e novos parceiros fazem parte. Uma rede se formou ao redor da empresa.
E olhando o caminho percorrido, não posso deixar de perceber que foram exatamente nesses 10 anos que eu consegui, finalmente, realizar o potencial completo daquilo para o qual me formei. Que consigo enxergar holísticamente o impacto e a abrangência que o branding e o design podem ter na história de uma pequena empresa.
E vejo que não estamos nem perto de pisar no freio, nem estamos em velocidade de cruzeiro, e nem arranhamos a altura de nossas expectativas. Temos pela frente um mercado enorme, carente de soluções modernas, repleto de desafios enormes.
A Propósitto faz essa semana, 10 anos de existência. Em um país em que tantas empresas morrem no primeiro ano, não deixa de ser um feito.
Para comemorar essa data, estamos, pela primeira vez, renovando nossa identidade corporativa. Porque com 10 anos, temos energia, e não tradição. Temos curiosidade, não certezas imutáveis. Somos aprendizes em alguns momenos, e professores em outros.
Nossa realidade mudou, e nossa marca precisa acompanhar esse momento.
É para este mercado que a Propósitto existe. Esse é o nosso verdadeiro PROPÓSITTO. E que venham os próximos 10, 20, 30 anos. Estamos nos preparando e evoluindo constantemente para eles.
Não posso terminar este texto sem agradecer ao Maurício Roma, que se juntou recentemente para multiplicar o nosso alcance. Ao meu filho Chico Teixeira, que sempre foi o combustível e o motivo de tudo. E à Gabriela, que esteve junto no antes e no durante, sem nunca ter sido acessório, e sim, peça principal da história.