O post sobre o caso We do Logos gerou várias respostas, comentários de todos os tipos. Um deles me chamou a atenção por tratar de um assunto complicado, delicado, e pouco explicado para nossos clientes. Porque o valor de um trabalho pode variar de um cliente para outro. Achei que a pergunta era tão boa que merecia uma resposta mais detalhada.
O Léo, me deixou essa mensagem, que reproduzo aqui:
“Mas eu gostaria de comentar um fator que acontece muito mais na sua área do que na minha: O preço varia conforme o cliente. Um exemplo rápido: Preciso de um logo para um website que vou lançar. Um designer faz a reunião comigo, tem o seu momento de criação, etc, etc… me cobra, por exemplo: R$ 2.000,00. Mas se o cliente não fosse eu, fosse Nike, a Coca-Cola, a Apple, a Sony, a Rede Globo, o Governo Federal ou a Johnson & Johnson? Será que seria cobrado o mesmo preço que foi cobrado de mim? A realidade do mercado mostra que NÃO na maioria dos casos. E isso é correto? O custo mudou porque o cliente tem mais dinheiro? Isso é ético?“
Léo, primeiramente, obrigado pela visita.
Na verdade, para responder essa pergunta, vamos ter que começar diferenciando duas coisas: CUSTO e VALOR.
Pensando estritamente na criação de um logotipo, o custo de produção não difere em quase nada entre uma peça criada para a Nike ou para a Padaria da esquina. Mas pense por um instante: quanto VALE o logo da Nike? O quanto a percepção do cliente sobre um produto pode mudar somente por ter estampado a marca num produto? O logo da Nike vale milhões. O da Padaria tem seu valor, mas comparativamente, muito menor. As vezes, grandes marcas nascem quando a empresa ainda é pequena. Nesse caso, alguns trabalhos de identidade podem sim, ter ficado com custos bem abaixo dos que se vê normalmente.
Outra coisa que deve se levar em conta. O trabalho real envolvido em cada um dos casos.
Quando se faz um custo para uma pequena ou média empresa, leva-se em conta o número de peças a serem criadas, as reuniões, estima-se as horas de trabalho que serão dispendidas no processo, e chega-se num valor. Normalmente, num prazo de um a três meses, é possível se realizar um bom trabalho de identidade corporativa, que atenda os requisitos da empresa e que cubra as necessidades do designer.
No caso de mega-corporações, nada é tão simples. As reuniões são intermináveis. Dezenas de pessoas vão produzir peças, e outras dezenas vão dar palpites sobre elas. O número de aplicações é gigante. Haverá retrabalho e re-retrabalho. Pesquisas de mercado serão feitas. O trabalho de branding, de marketing, de laboratório é muito mais complexo quando se está lidando com grandes volumes de dinheiro, e claro, público. Como dizia um professor meu, é tanto trabalho de branding que o logotipo sai quase de brinde.
Normalmente, agências e estúdios muito conceituados trabalham esse tipo de conta. E a responsabilidade é muito grande. Você definitivamente não quer ser a pessoa que fez despencar em 1% a venda de margarinas apenas porque fez uma nova embalagem que não impactou bem no público. Porque 1% no caso de gigantes alimentícios significam milhões de reais. E esse é outro motivo que faz os valores serem tão altos. Quando se está trabalhando com um cliente monstruosamente grande, assim também é a influência dele em sua carreira. A cada trabalho para grandes corporações, o estúdio está empenhando todo seu prestígio.
Entre a padaria e a Nike existe uma miríade de tamanhos, formas e qualidades de empresas. Compor o preço para cada uma delas é uma equação complicada e nem sempre 100% matemática. Mas que deve ser feita, para não comprometer nem a padaria, nem a Nike, e nem o stúdio que está aceitando o trabalho.
Mas há distorções, claro. E geralmente elas aparecem quando se contrata o estúdio errado, baseado mais na grife que ele representa do que em seu portfólio real. E então, não é incomum vermos identidades ridiculas que custaram milhões. Mas pode ter certeza, que por trás desses contratos estranhos, o que está pesando no bolso do cliente não é o design. É principalmente a política, a má gestão.
Na minha opinião, quando você me pergunta se é ético cobrar valores diferentes para clientes diferentes, minha resposta é sim.
Obrigado pela visita, qualquer dúvida estou a disposição.